13 de abril de 2009

Grande e enrolado

Sábado fui no salão.
_ Tratamento para cachos e um corte, façavor. – disse ao telefone.
_ Ok, venha às três.

Na hora combinada, estava lá. Meio apreensiva como sempre fico quando penso numa tesoura nas madeixas. Tenho pavor de ficar curto demais ou pigmaleão demais. Mas, quando me sentei na cadeira e a cabeleireira, com cabelos lindos, começou a conversar, fiquei tranquila.

_ Ah, mas você não quer muito curto, né? E nem muito armado, certo?
_ Isso, isso! – respondi elegendo-a minha personal hair stylist forever.

Depois de algumas ousadas tesouradas, fui lavar. AMO essa parte do processo. Queria uma pia daquelas e alguém para massagear meus cabelos todo dia. Ah, quando eu ganhar na mega sena...

Lembro que a vida toda tive pânico de cortar os cachos. Eles encolhem horrores e, quando mal cortados, ficam mesmo pavorosos. Por décadas (duas e mais um pouco) tive a mesma cabeleireira. Só que me irritava quando ela vinha com aquele papinho “tenho um alisamento novo”, “escova de chocolate, já ouviu?”, “ah, agora lançaram um que deixa lisinho e não fede”. NÃOOOO! Obrigada! EU NÃO VOU ALISAR! Até que cansei de explicar e parei de ir lá. Só, muito raramente para hidratar, mas cortar, no more.

Eu nunca alisei, nem escovei, nem nada do tipo. Por um motivo muito simples – eu gosto dos meus cachos. AMO meus cachos, aliás. ;-) Jamais pensei em aniquilá-los. Nem nos dias mais indomáveis eu desejei esticá-los. Não quero um cabelo pasteurizado, não quero sair com o cabelo igual o de todo mundo. Muito obrigada, mas essa eu passo.

Já não queria mesmo, mas teve aquele dia que ouvi alguém pedir com tanto jeitinho que decidi de vez. Ou, pelo menos, achei que seria uma justificativa mais “romântica” para quando me fosse perguntado por que não e por que nunca.

Já tem quase uma década. Era um menino por quem eu era encantada desde muito tempo. Era meu amor recorrente (como pneumonia, o que faria mais sentido, considerando os estragos). Eu me apaixonava por outros, namorava alguns, mas quando estava sozinha, a lembrança dele voltava.

Só que nossos caminhos, cruzados no primário e no cursinho, estavam há anos desencontrados. E eu cismei que deveria dar um fim (ou um começo) a isso. Ele morava em outra cidade, mas a mãe, era praticamente minha vizinha. Comecei a fazer marcação serrada na casa da mulher que, por sorte, ou por estar sempre fora, nunca chamou a polícia. Até que, depois de dezenas de tentativas, ela me atendeu.

Eu, da calçada, usava rabo de cavalo já que de lá ia para a academia. Foi quando ouvi uma voz que vinha de cima: “oi, bem”. Olhando para o alto, vi a mulher me chamando da varanda. Ela explicou que não poderia descer porque cuidava de uma pessoa doente. Mas se animou quando eu disse que procurava pelo filho dela. Me deu os números dele. Fixo e celular.

Liguei algumas horas depois, quando voltei para casa. Ele já sabia que eu tinha falado com sua mãe e foi muito gentil. Falamos do passado, da escola, dos amigos em comum dos quais já não tínhamos notícia e marcamos de nos encontrar depois de três dias:

_ Estarei em São Paulo e podemos nos ver.
_ Claro, - disse eu querendo gritar.

No dia e hora combinados, ele chegou. Mais velho, também com alguns cachos, agora grisalhos, e lindo como eu me lembrava. Fomos beber alguma coisa e, depois de horas nos atualizando sobre a vida um do outro, o assunto acabou. Ele então, me disse:

_ Quando a minha mãe contou que uma Dani foi em casa me procurar torci tanto para que fosse você. Só que ela disse que era uma mocinha de cabelos lisos.
_ Ah, deve ser porque eles estavam presos. – e falei do rabo de cavalo.
_ Hum. Ainda bem que era mesmo a Dani dos Cachinhos. Adoro eles assim. Vê não vai alisar nunca, hein? – dizia enquanto enrolava seus dedos nos meus cabelos.
_ Hã, hãn. – murmurei antes de comprometer mais um tanto de anos por conta de tudo dito e acontecido naquela noite e nos dias que se seguiram.

Sendo assim, nunca alisei mesmo. Por motivos meus, mas também porque ele gostava assim. Foi um amor que não aconteceu. Mais foi grande o bastante para eu desejar me lembrar sempre dele cada vez que alguém pergunta por que não e por que nunca. Foi grande sim. E enrolado. Como meus cachos.

Um comentário:

  1. Olha, é a primeira vez que eu visito o blog.Vi vocês no blog necessaire de pandora, eu acho.Amei, amei amei. Primeiro, porque eu também AMO meus cachos.Me identifiquei com TUDO que você falou sobre corte, medo de armar, e pavor de cabeleireiras que insistem em querer esticar meus cachos.É a minha marca, e quem me conhece sabe que eu perco pelo menos uns vinte minutos todo dia só passando creme em cabelo, arrumando, etc...Um trabalho que só quem tem cachos pode entender. E o resultado, são vários toin-toins de elogios...

    O blog de vcs é lindo e com certeza, vou marcar presença por aqui a partir de agora.....

    bjos a vcs ,autoras cacheadas.

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