8 de maio de 2009

Pri, a cacheada!

*por Priscila Santos

Até meus maravilhosos 30 anos NUNCA tinha olhado para meus cabelos com bons olhos - não ele não era bonzinho não!

Indomável era a palavra que bem o definia. Sempre preso num rabo de cavalo, era assim que me apresentava. Até a toca de meia fina eu já havia recorrido para domá-los, mas o "trem" não tinha jeito.

Para deixá-los soltos, somente após uma escova, que os mantinha no lugar, mas não me deixava confortável, sei lá... não me sentia eu mesma.

Recorri a tal da "escova progressiva" e pensei "se o trem não ficar bom, pelo menos será por 2 , 3 meses no máximo". Ironia do destino, no fatídico dia 20 de novembro recorri a química para alisá-los e assim eles ficaram... forever.

Desespero total: nos primeiros dois meses foi engraçado me olhar e não precisar prendê-los, mas depois fui me enchendo da cara de manga chupada que fiquei! Os cachinhos, por mais que eu insistisse em lavar, não pentear, não secar... não voltavam, foi quando - após um ano sem sinal de tonhonhonn nenhum - que eu decidi radicalizar: cortei o cabelo, próximo a raiz para ver de novo meus cachinhos nascerem.

Deixá-los viver permitiu-me viver mais tranquila e feliz - estou segura da mulher cacheada que sou e me ORGULHO muito disso.

Não tenho lá os cachos definidos como da Bob e Dani, mas com muita liberdade e amor para com eles acredito que conseguirei aos poucos, não apenas ser conhecida como "aquela gordinha ali", mas principalmente quando interpelaram: "qual?" responderão: "a de cachinhos"! (uuuhuhuhuuuuuu).

Abraços,
Pri

13 de abril de 2009

Grande e enrolado

Sábado fui no salão.
_ Tratamento para cachos e um corte, façavor. – disse ao telefone.
_ Ok, venha às três.

Na hora combinada, estava lá. Meio apreensiva como sempre fico quando penso numa tesoura nas madeixas. Tenho pavor de ficar curto demais ou pigmaleão demais. Mas, quando me sentei na cadeira e a cabeleireira, com cabelos lindos, começou a conversar, fiquei tranquila.

_ Ah, mas você não quer muito curto, né? E nem muito armado, certo?
_ Isso, isso! – respondi elegendo-a minha personal hair stylist forever.

Depois de algumas ousadas tesouradas, fui lavar. AMO essa parte do processo. Queria uma pia daquelas e alguém para massagear meus cabelos todo dia. Ah, quando eu ganhar na mega sena...

Lembro que a vida toda tive pânico de cortar os cachos. Eles encolhem horrores e, quando mal cortados, ficam mesmo pavorosos. Por décadas (duas e mais um pouco) tive a mesma cabeleireira. Só que me irritava quando ela vinha com aquele papinho “tenho um alisamento novo”, “escova de chocolate, já ouviu?”, “ah, agora lançaram um que deixa lisinho e não fede”. NÃOOOO! Obrigada! EU NÃO VOU ALISAR! Até que cansei de explicar e parei de ir lá. Só, muito raramente para hidratar, mas cortar, no more.

Eu nunca alisei, nem escovei, nem nada do tipo. Por um motivo muito simples – eu gosto dos meus cachos. AMO meus cachos, aliás. ;-) Jamais pensei em aniquilá-los. Nem nos dias mais indomáveis eu desejei esticá-los. Não quero um cabelo pasteurizado, não quero sair com o cabelo igual o de todo mundo. Muito obrigada, mas essa eu passo.

Já não queria mesmo, mas teve aquele dia que ouvi alguém pedir com tanto jeitinho que decidi de vez. Ou, pelo menos, achei que seria uma justificativa mais “romântica” para quando me fosse perguntado por que não e por que nunca.

Já tem quase uma década. Era um menino por quem eu era encantada desde muito tempo. Era meu amor recorrente (como pneumonia, o que faria mais sentido, considerando os estragos). Eu me apaixonava por outros, namorava alguns, mas quando estava sozinha, a lembrança dele voltava.

Só que nossos caminhos, cruzados no primário e no cursinho, estavam há anos desencontrados. E eu cismei que deveria dar um fim (ou um começo) a isso. Ele morava em outra cidade, mas a mãe, era praticamente minha vizinha. Comecei a fazer marcação serrada na casa da mulher que, por sorte, ou por estar sempre fora, nunca chamou a polícia. Até que, depois de dezenas de tentativas, ela me atendeu.

Eu, da calçada, usava rabo de cavalo já que de lá ia para a academia. Foi quando ouvi uma voz que vinha de cima: “oi, bem”. Olhando para o alto, vi a mulher me chamando da varanda. Ela explicou que não poderia descer porque cuidava de uma pessoa doente. Mas se animou quando eu disse que procurava pelo filho dela. Me deu os números dele. Fixo e celular.

Liguei algumas horas depois, quando voltei para casa. Ele já sabia que eu tinha falado com sua mãe e foi muito gentil. Falamos do passado, da escola, dos amigos em comum dos quais já não tínhamos notícia e marcamos de nos encontrar depois de três dias:

_ Estarei em São Paulo e podemos nos ver.
_ Claro, - disse eu querendo gritar.

No dia e hora combinados, ele chegou. Mais velho, também com alguns cachos, agora grisalhos, e lindo como eu me lembrava. Fomos beber alguma coisa e, depois de horas nos atualizando sobre a vida um do outro, o assunto acabou. Ele então, me disse:

_ Quando a minha mãe contou que uma Dani foi em casa me procurar torci tanto para que fosse você. Só que ela disse que era uma mocinha de cabelos lisos.
_ Ah, deve ser porque eles estavam presos. – e falei do rabo de cavalo.
_ Hum. Ainda bem que era mesmo a Dani dos Cachinhos. Adoro eles assim. Vê não vai alisar nunca, hein? – dizia enquanto enrolava seus dedos nos meus cabelos.
_ Hã, hãn. – murmurei antes de comprometer mais um tanto de anos por conta de tudo dito e acontecido naquela noite e nos dias que se seguiram.

Sendo assim, nunca alisei mesmo. Por motivos meus, mas também porque ele gostava assim. Foi um amor que não aconteceu. Mais foi grande o bastante para eu desejar me lembrar sempre dele cada vez que alguém pergunta por que não e por que nunca. Foi grande sim. E enrolado. Como meus cachos.

5 de abril de 2009

Yes, nós temos cachinhos!


Em meus planos mais otimistas, minha primeira viagem internacional seria aos 30 anos. E 9 anos antes, minha amiga de faculdade Melissa, me convidou para ir com ela, ao Chile. Fiquei extasiada, só pensava na viagem e não pesquisei absolutamente nada sobre o lugar que passaríamos quase um mês. Portanto, tudo seria surpresa!

Ficaríamos na casa de uma família amiga do namorado da Mel que já tinham se correspondido, trocado e-mails, ligações e fotos e eu mera coadjuvante, mencionada apenas nos últimos contatos antes da viagem.

Viramos a sensação do ônibus, éramos as únicas brasileiras a bordo. Todos os chilenos queriam dar sua sugestão de passeio, ofereciam até mesmo lugar para ficarmos. Já estava adorando aquilo.

Na rodoviária do Chile, Luis Roberto, nosso anfitrião foi nos buscar. Uau! Não o conhecia, mas era bom encontrar alguém para nos buscar depois de quase 3 dias na estrada. De cara pegamos o metrô e sentia os olhares e achei que era apenas coisa da minha cabeça por causa do cansaço. Como chegamos no começo da noite, nos acomodamos, jantamos e aquele dia estava encerrado.

Na manhã seguinte, Pamela ( leia Pamêla ), faria compras e resolvemos acompanhá-la. É, não era impressão, as pessoas estavam mesmo olhando, e até o último dia naquele país eu seria olhada daquele jeito.

Não importava onde estivesse, fosse no supermercado, açougue, bolsa de valores, igreja, na rua, na feira... enfim, chamava a atenção de todos. Ganhei até o apelido de A Preferida, dado pela Mel e eu me chamava de Arara!!

Quando já estávamos um pouco mais à vontade com a família, perguntamos o porquê de tanto espanto comigo. A sinceridade foi assustadora: seus olhos, as ancas (!!!) e seus cabelos crespos.

CRESPOS!?! É, é assim que se diz enrolados em espanhol. De fato, em alguns momentos me senti um manequim com a roupa do último verão na vitrine. Pegavam nos meus cabelos, sem ao menos falar comigo, ficavam hipnotizados com meus cachinhos. Depois de alguns segundos olhavam para o meu rosto e viam meus olhos azuis, daí pronto! milhares de perguntas sobre a Amazônia, pois já sabiam que eu era brasileira por causa do meu corpo.

Sem brincadeira, era uma coisa impressionante. Mulheres, homens, velhos e crianças, por ninguém eu passada despercebida.
Depois de uma semana, Pamela fez uma proposta. "Case-se com Luis Andrés, meu irmão. Ele tem casa, carro e seguro de vida". Eu tive vontade de rir, imagine que convite mais sedutor.

Respondi que tinha família, emprego, faculdade aqui, não poderia mudar de vida assim de uma hora para outra. "Eu busco um trabalho pra você e nós seremos sua família, ele te acha linda, ama seus cabelos crespos", ela estava mesmo empenhada no matrimônio. E assim prosseguiu-se a viagem: quanto mais gente conhecia, mais fãs dos meus cachos fazia.

Faltando três dias para voltarmos, trocamos presentes com a Pamela. Perfumes brasileiros por perfumes chilenos. Minhas Havaianas também não voltaram e ela ainda queria uma outra lembrancinha... um cachinho!

Sem pestanejar, disse que queria cortar os cabelos. A Mel também se empolgou e fomos ao cabelereiro.

Não foi um corte de cabelos, foi um ritual. A cada cachinho cortado, a Pamela recolhia e dizia: este para Luis Andrés, este para mim, este para la Lala, este para Chaid...

Voltei com os cabelos pra lá de curtos. Como emagreci muito durante a viagem, a primeira vista parecia uma refugiada. Minha mãe ficou muito brava, disse que eu jamais viajaria de novo!

Fazer o que se meus cachinhos são um sucesso internacional? rs. De vez em quando ainda digo: Se tudo der errado volto para o Chile, porque lá sou quase miss!

Ps.: não coloquei legenda nas fotos (tsc). 1. Pamela, eu e a Mel no Parque Cerro Santa Lucia, segundo dia no Chile
2. No metrô em direção à rodoviária na volta ( ao fundo cartaz do filme do Garrincha)