5 de fevereiro de 2009

Cabelo ruim? Não, o meu é bonzinho!

Por Miguel Pragier*

Acontece que meu cabelo comigo nasceu. E me foi designado um redondo ninho de cachos bem escuros.
Queiram os prezados leitores acompanhar o resumo de meu currículo capilar fase à fase:

Infância
Minha mãe, sendo mulher cuidadosa e vaidosa, penteava meu cabelo de lado, com carinho e insistência. Fatalmente, eu chegava à escola com os cabelos em forma de tsunami.
Apenas os coleguinhas de cabelo liso tinham o direito de parecer-se com atores mirins.
Era o tempo em que, na TV, apenas crianças loiras, de olhos claros e cabelos lisos apareciam em propagandas.

Pré Adolescência
Descobri tarde que para mim haviam dois cortes possíveis: Raspado ou sem corte.
Não era apenas questão de moda. Tinha algo em minha cabeça - sob o cabelo - relacionado a baixa auto-estima.
Meu pai, prático e pouco sensível aos problemas capilares dos moleques dos anos oitenta, mandava raspar. Mas deixar um pouquinho em cima, pra não parecer detento. Ele não fazia por mal. Era o mesmo corte dele.
Na TV, apenas os moleques bobalhões e nerds tinham cabelo enrolado. E curiosamente, se o cabelo não fosse liso, o moleque tinha que usar óculos. Defeitos genéticos dos roteiristas, eu acho.

Adolescência
Em minha adolescência, havia o Mick Hucknall. O vocalista do Simply Red tinha o cabelo parecido com o meu, mas era vermelho e assimétrico. E as meninas "cool" curtiam.
Quanto a cor, nada. Mas eu resolvi deixar meu cabelo mais comprido de um lado do que do outro. E aí, iniciou-se mais um período de pouquíssima produtividade, como só um adolescente consegue.
Descobri que havia apenas um tipo de penteado pra mim: O "Não Pentear". Mas quem me convencia a deixar o cabelo quieto?
Um molecão ( muito ) excêntrico, com visual alternativo e um certo gosto por chocar os outros... Deparei-me com o fato de que, enquanto os "lisos" deixavam o cabelo crescer até o chão, eu deixava subir até o teto.
Parecer um cogumelo foi minha marca registrada durante anos. Deixei o cabelo de todos os jeitos imagináveis.
Raspei do lado, raspei tudo, tive uma trancinha que me acompanhou pendurada na nuca durante alguns anos. Mesmo de cabeça raspada a trancinha balançava, solitária, sobre minhas costas.
As pessoas faziam piada, dizendo que eu parecia um hare-krishna. Eu passei a encarar com mais seriedade quando um hare-krishna me cumprimentou num idioma que não entendi.
São cachos com personalidade própria. E, em minha adolescência, era uma personalidade diferente da minha.
No início de minha vida adulta, que nem sei bem quando aconteceu (Mas estou certo de que já aconteceu!) não me parecia com o vocalista do Simply Red.
De fato, suprimi a forte personalidade de meu cabelo. Reduzi-o a um corte formal. Minha cebeleira foi rendida e derrotada pela tesoura.
Mas pra minha sorte, esses pelos me concederam sua permanência vistosa, mesmo sob meu descuido e até mesmo algum desdém. Quem se importa muito com os cabelos são os carecas.

Hoje
Gostaria de ter uma coleção de fotos com os cortes e penteados doidos que usei.
Hoje meu cabelo está na moda. Gente que pensa, nos filmes e nas propagandas, também exibe orgulhosamente fartas massas de caracóis.
O pente até passou a vender menos. E mais: A função do pente, hoje, é despentear. Talvez mudem o nome do objeto para "despente" ou "arrepiador".

Meu filho tem cabelo cacheado. Como ele é muito bonito mesmo, seu cabelo sempre estará na moda, mesmo debaixo de um boné ordinário.
Minha esposa tem o cabelo liso e lindo, cheio, brilhoso.
Quanto a mim, agradeço sempre a Deus por manter meu cabelo em minha cabeça. Está perdendo a cor e branqueando bem vagarosamente, mas decidido.
Torço para que, um dia mais adiante, meu cabelo seja encaracolado e branquinho. E que mantenha minha cuca fresca.

*Meu amigo virtual. Pai do Michel e marido da Gel (jornalista, blogueira e sagitariana), Miguel inaugura a seção "Cacheado convidado". De tempos em tempos, amigos da Bob e meus darão aqui o ar (e as letras) de suas graças.

2 comentários:

  1. Quero acrescentar um episódio a essa historinha. No nosso casamento, o Miguel tinha um cabelão, tava de trança pra vocês terem uma idéia. Depois da cerimônia e do almoço, eu e todos os outros convidados ficamos assombrados quando o ele sacou uma tesoura e anunciou que, no lugar da gratava (que ele não usou pois estava de bata), iria cortar um pedaço do seu cabelo para cada contribuição em dinheiro. As reações foram as mais diversas: convidados inconformados, convidadas quase desmaiando, até empolgados que cortavam o cabelo bem na raiz. Ao final da festa meu amado estava carequinha e os convidados levaram pra casa além das lembraças um cacho (ou vários). Foi um verdadeiro ritual de passagem!

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  2. Muito bom, muito bom mesmoooooo!!!! hahahahaha

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